O que faz um Músico de Orquestra? – com Fernando Mathias

Entrevista 11 -23/06/2015

23/06/2015 13h00 (GMT -3)

 

Músico de Orquestra
Interpreta os códigos (conforme a técnica composicional de cada autor) e os transforma em música.

Meu nome é Fernando Mathias, eu sou Músico e Professor de Música, já exerço essa profissão há 14 anos e sou daqui da cidade de Santo André/SP.


[Escolha profissional]

Eu comecei a estudar música por causa dos projetos sociais que tinham no meu bairro. Eles eram dirigidos por uma igreja evangélica protestante, mas que abria a oportunidade da comunidade poder participar daqueles projetos de música.

Depois disso eu comecei a estudar fora daquele projeto social da igreja, numa escola específica, com professores específicos para o instrumento. Depois, de mais ou menos 1, 2 anos que eu já estava estudando fora, eu consegui começar a passar em projetos de orquestras jovens que têm em São Paulo, que deve ter, mais ou menos, umas dez orquestras jovens, né? Que são remuneradas, pagam bolsa para os estudantes e para os músicos ali daquela região. Entrei na faculdade também, para estudar Educação Musical.

Então é isso, a música além de mexer com o meu sentimento, com a minha pessoa, ela também faz parte da minha profissão, né?

 
[Função]

Um músico dentro de uma orquestra, a função de um músico, não é, simplesmente, chegar e fazer o que ele bem entende, ele tem um guia, ele tem uma partitura na frente dele, nessa partitura tem todos os códigos que sua forma de escrita, ele tem a sua expressão representam o que ele tem que fazer naquela música, só que cada música, precisa ser interpretada de uma forma diferente, porque cada compositor tem a sua técnica composicional, ele tem a e a sua ideia por trás daquilo, e aí vai aprofundando cada vez mais. Então, isso é um Músico hoje, no Brasil.

Existe também um Músico, do segmento de música popular, que é um Músico que ele toca na noite, ele toca nos bares, ele toca em festas. É um ramo da Música um pouco diferente, mas ele também tem que se organizar de uma forma mais autônoma, ali você não tem um líder como na orquestra. Esse Músico ele tem que ser um Músico mais regrado que tem uma administração pessoal melhor.

 

[Atividades diárias]

Um músico mais regrado, mais bem educado, mais disciplinado, ele já pega o seu instrumento, ele faz um alongamento, ele faz um aquecimento com esse instrumento. Se é um instrumento de sopro, ele vai ter que exercitar toda a parte respiratória do corpo dele, vai ter que exercitar toda a parte muscular da face, da boca.

Depois desses exercícios de aquecimento, o Músico ele vai escolher ali qual vai ser o destino do estudo diário daquele dia. Se ele tem algum teste, alguma prova para ingressar em alguma orquestra, em algum grupo, ele vai estudar o que aquele teste, especificamente, pede. Se ele já é um Músico de orquestra, ele vai estudar o repertório daquele programa que ele vai fazer.

O dia de um Músico é um dia puxado, porque você não consegue estudar tudo isso em 10 minutos ou em 30 minutos, você tem que estudar isso ao longo de um período. Só que, por exemplo, no caso de um instrumento de sopro de metal, que exige muito da musculatura da face, do pulmão, do diafragma, esse Músico ele não consegue estudar 4 horas seguidas, ele vai ter que parar de meia em meia hora ou de uma em uma hora, mas ele vai ter que fazer pausa, então esse estudo ele fica ainda maior.

Então o Músico ele sempre tem que estar se reciclando, estudando, praticando e, só dessa forma, ele vai conseguir se manter no cargo, né?

 

[Formação]

Para que você seja um Músico de orquestra, um Músico da noite, um Músico que toca, que canta, você não precisa, necessariamente, de uma faculdade, de um curso acadêmico. Mas você precisa de instruções acadêmicas.

Antigamente, os grandes compositores, os grandes maestros Músicos, eles não passaram por uma orquestra, por uma faculdade. Mas hoje, no século XXI, você tem já a possibilidade de ter isso também num curso acadêmico, no qual você vai se aprofundar, principalmente, de conceitos teóricos. Então têm cursos específicos para cada instrumento e também você tem cursos para regência, composição, cursos mais voltados para a teoria musical, para você ser Professor de escolas, universidades, de conservatórios, e assim vai. 

 

[Perfil do profissional]

Você tem que ter, primeiro, uma aptidão pessoal. Ou você nasce com ela, ou você acaba adquirindo tudo isso ao longo da vida. Quem não tem um talento musical de nascença, pode ser um Músico? Pode. Essa pessoa ela consegue. Só que é a mesma coisa que um Médico que tem aptidão, que nasceu para aquilo, que sente que vive aquilo, se emociona com aquilo, e um Médico que só é acadêmico. Os dois estão formados, os dois são Doutores na mesma área. Só que, quando um vai dar uma notícia para um paciente sobre um diagnóstico, ele tem tato para dar essa notícia, o outro não.

Então, a Música é como qualquer outra profissão: se você nasceu com aquilo, você vai chegar num patamar; se você praticou aquilo desde pequeno, você chega num outro patamar; se você, no meio da sua jornada da vida, você começou a gostar e começou a se aprofundar, você chega num outro patamar. E assim vai.

[Perspectiva da profissão]

Hoje, a música, assim como ontem e antigamente, ela é um coisa prática, né? Ela é uma arte que você lida diretamente com a prática. Você pode comparar uma pessoa que nunca tocou em uma orquestra, mas tem Mestrado no instrumento, com uma pessoa que tocou a vida inteira numa orquestra e não tem Mestrado no instrumento. Quem vai dominar mais esse instrumento é quem tocava na orquestra, é quem praticava aquilo. Ele está com a linguagem das peças, a linguagem dos compositores fresca na cabeça dele, na mente dele.

Quem só fez o lado acadêmico, ele sabe como montar um instrumento, ele sabe como desmontar um instrumento, ele entende todas as partes estruturais de um instrumento, ele entende da parte histórica, teórica do instrumento. Só que se ele não praticou esse tempo todo, é muito difícil dele conseguir se igualar ao Músico prático. Isso na noite também, diferente de um violonista que só estuda em casa para um violonista que já pegou todos os macetes da noite. Porque o Músico que estuda em casa, ele pega uma peça, ele estuda, ele erra, ele volta, mas na noite você não pode errar e voltar. Se você errar, você tem que ir para frente e esses erros, se você for corrigindo isso, você vai acabando com um tempo, dominando esses erros e eles não acontecem mais.

Quem pratica mais, consegue se destacar mais.

[Inspiração profissional]

Me espelho em algumas pessoas no longo da história da Música, algumas pessoas chamam muito a minha atenção: Bach chama minha atenção, porque ele era um gênio que conseguiu produzir tantas coisas em pouco tempo; Mozart chama a minha atenção, porque ele era ousado desde pequeno; Beethoven chama a minha atenção, porque Beethoven, ele conseguia transmitir o que ele sentia, através da Música e ele conseguia chamar a atenção das pessoas para isso; Tchaikovsky, chamou a minha atenção também, porque ele mesmo tendo uma vida tão complicada e tão conturbada, cheia de conflitos pessoais e externos também, ele conseguiu se destacar no meio da Música, no momento da vida onde ele nem trabalhava com a Música. Ele trabalhava no Ministério da Justiça da cidade dele, mas ele conseguiu ser um dos maiores compositores do gênero do ballet.

Eu me espelho em regentes que se destacam muito, como o atual regente Gustavo Dudamel, que é um venezuelano que, no contexto político do país, saiu podemos dizer assim, da sarjeta porque é uma pessoa que não tinha estruturas, como um europeu tem. E ele consegue hoje chegar num cenário musical. Então, é nessas pessoas que eu me inspiro.

Só que um Músico, ele excede à notas, à sons, à técnica musical, ele também é um ser humano que precisa lidar com outros seres humanos também. Então tem uma pessoa, na qual eu me inspiro muito, que é Jesus Cristo, porque Ele sabia como  lidar com as pessoas, ele tinha essa habilidade, tinha esse tato, ele tinha compaixão na hora que tinha que ter e tinha uma voz firme também na hora que tinha que ter. 

[Análise da trajetória profissional]

O recado que eu deixaria para mim mesmo, era o seguinte: eu desde os meus 11 anos, eu estudo Música, de uma forma mais intensa eu comecei a estudar aos 15 anos, só que eu, pelo contexto social, pelo contexto familiar, pelo contexto psicológico também, pela estrutura psicológica que eu tinha, com os meus 18 para 19 anos eu parei de estudar Música, parei de praticar Música e fiquei sem praticar.

Fiquei 4 anos com ele parado, e isso me gerou mais problemas psicológicos do que eu tinha, me gerou um vazio, uma falta daquilo que eu praticava. Então o conselho é esse: não desista. 

 

[Perspectiva da profissão]

A música no Brasil nunca foi uma coisa tão valorizada. Pelo contrário, de todas as artes, ela é uma das artes menos valorizada no Brasil. As orquestras hoje, os grupos que apoiam a prática da música consciente, da música acadêmica, essas orquestras têm sofrido um corte de custos, de verba, e tem até dispensado Músicos. Mas eu acredito que daqui 10 anos, no Brasil, nós vamos ter um “boom” na música. Isso não precisa chegar em 10 anos. Passando essa crise, eu acho que as coisas vão começar melhorar ainda mais para a música.

Então, eu acho que em 10 anos, a música vai estar bem desenvolvida no país. 

[Remuneração]

Hoje, nós temos orquestras do padrão “A”, que são orquestras como a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, Orquestra Municipal de São Paulo, Orquestra Brasileira, Sinfônica Brasileira, essas orquestras hoje, elas pagam um piso salarial, por exemplo, para um Músico de categoria “B”, que é um Músico que senta nas estantes de dentro da orquestra, que não é o líder do naipe. Esses Músicos, eles têm o piso hoje, de mais ou menos, R$6 mil à R$10 mil, né? O piso. Já os Músicos de categoria “A”, que são os líderes dos naipes, eles têm um piso salarial de R$10 mil à R$15 mil. Isso pode variar um pouco para baixo, um pouco para cima, está certo? De orquestra para orquestra.

Já tem as orquestras de categoria “B”, que elas remuneram os Músicos, Músico de categoria “A”, de uma faixa de R$4 mil à R$7 mil, e Músico de categoria “B”, de uma faixa de R$3 mil à R$5 mil. Então isso vai variando.

Mas também têm orquestras de categoria “C”, orquestras jovens, que remuneram Músicos a partir de R$1 mil, de R$1 mil à R$3 mil. 

[Indicação de leitura – Confira em: www.goodreads.com/grupoitos ]

Para auxiliar a interpretação da peça que o Músico vai executar ali, também precisa procurar a biografia do compositor, ele também precisa procurar, talvez até mesmo, a biografia daquela peça, porquê que aquela peça foi escrita, qual o contexto político, qual contexto social daquela peça.

Então a música ela é, extremamente, social. Ela é relacional. Então eu leio muito livros que são de cunho relacional e dois desses são livros religiosos. Um se chama “O Maior Discurso de Cristo”, que fala do maior sermão que Cristo pregou nas escrituras, que foi o sermão da montanha; e o maior livro, que na minha opinião, é o que todo mundo deveria ler, é a “Escritura Sagrada”, a “Bíblia”. Não por uma forma religiosa, porque cada religião também tem o seu livro. O que eu recomendo é isso, que um Músico ou qualquer profissional, precisa se relacionar bem com as pessoas e a base disso é o amor. 

 

[Mensagem Final]

Se um dia você almeja ser um Músico, saiba que tem hoje inúmeras escolas que podem te ajudar, te indicar o caminho que você deve seguir. Escolas que são pagas e escolas gratuitas também do governo, escolas muito boas, inclusive. Se você já tem condições ou você tem vontade, mas não tem estrutura psicológica, estrutura familiar, estrutura financeira, mas você quer ser, o meu recado é: não desista, porquê você vai ser muito mais feliz com a música.

[Divulgação]

Aqui na cidade de Santo André nós temos alguns projetos musicais acontecendo. Esses projetos, eles não são projetos de cunho sinfônico, eles são projetos de cunho religioso. São projetos sociais que acontecem dentro da nossa comunidade religiosa aqui em Santo André e que é aberta para todo o público, qualquer pessoa pode participar. O projeto se chama Innovare Orquestra & Coral, ele hoje conta com um coral de 55 pessoas e uma orquestra de 50 pessoas. Então, se você tem desejo de cantar: “ah, Fernando, será que eu posso ser um Músico? Será que eu consigo cantar?” Venha descobrir se você consegue ou não. Te garanto que se mesmo você for a pessoa mais desafinada que possa estar nessa terra, nós vamos conseguir te indicar um caminho para você ser mais afinado, com certeza. Então, segue o meu contato: meu email é innovmusic@gmail.com e o meu telefone 9 8953-6672. Muito obrigado.

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