O que faz um Professor de Direito? – com Luís Carlos Costa

Entrevista 08 – 02/06/2015

02/06/2015 13h00 (GMT -3)

 

Professor de Direito
Forma profissionais que vão cuidar da vida, do patrimônio e das questões familiares das pessoas

Olá, meu nome é Luiz Carlos Pilegi Costa, eu sou Professor de Direito, sou também Advogado e eu sou de São Paulo, advogo em São Paulo. Eu exerço a docência em nível superior há, aproximadamente, 10 anos, mas a minha atuação, na área jurídica, já passa um pouquinho dos 20 anos se eu contar o meu estágio profissional.


[Escolha profissional]

Olha, eu desde que eu ingressei no curso de Direito, a minha vocação, o meu desejo inicial foi, realmente, ser Professor. Quando eu era estudante de Direito não existia, embora eu não seja tão velho assim, não existia essa profissão de Professor de Direito.

Nas faculdades de Direito, o que nós tínhamos eram grandes advogados, grandes juízes, grandes promotores super bem intencionados, inclinados à docência. Às vezes, por uma questão de status também, por ser Professor de Nível Superior. Mas, não tínhamos a carreira de Professor. Hoje, nós temos uma carreira de Professor de Direito e existem colegas meus hoje que são, simplesmente, Professores de Direito; não é operador de Direito em outras áreas.

Embora eu ame a advocacia, tenho admiração por outras carreiras, mas Professor de Direito, para mim, tem um brilho especial, um prazer especial

 
[Função]

Quanto à função do Professor: o Professor é acima de tudo, alguém que tem uma missão. Professor também tem um aspecto profissional. Ele é um profissional, ele deve ser remunerado, ele tem reivindicações de caráter típicas de profissional, mas, acima de tudo, é alguém que tem um ideal e tem uma missão de transformar pessoas. Assim como um ator ele vive de aplausos, o Professor vive do reconhecimento do seu aluno e do sucesso do seu aluno, mais do que de salário.

Então, o Professor vive essa grande dicotomia; essa é uma equação que às vezes não fecha, porque você tem suas necessidades profissionais e financeiras e tudo mais. E, você tem também, uma missão social, uma função social muito importante e um nível de remuneração, que não é salário, que transcende a situação financeira. Ser Professor é isso.


[Atividades diárias]

O cotidiano do Professor é, de fato, é muito mais do que sala de aula. Mas é, principalmente, sala de aula. Não existe nada mais gostoso para um Professor do que estar dentro de uma sala de aula.

É bom ser gestor acadêmico também, é bom ter coordenação, é bom participar da estruturação de um curso, mas nada igual do que a presença física, do contato físico, desse contato imediato com os alunos. Entretanto, o dia-a-dia do Professor, inclui também um nível mínimo de preparação de aula, um nível mínimo de atualização e um nível mínimo de fome e concentração.

Eu preparo aula até dirigindo, ou até descansando, ou até dormindo, porque às vezes eu sonho com aula, eu sou do que eu vou falar para o meu aluno. Tem alguém, um autor que falou uma vez sobre o “ócio produtivo” ou “ócio criativo”, pois é, às vezes, eu não estou parado, eu estou montando aula mentalmente. Alguns minutos antes, assim como o lutador entra no ringue e ele precisa ter foco, ele precisa ter concentração, os momentos que antecedem a aula, são momentos de fome e concentração onde aquele conhecimento que o Professor obviamente já tem, ele está colocando em ordem e escolhendo a melhor abordagem, a melhor estratégia para conseguir transmitir o seu conteúdo naquela aula e para aquela turma especificamente; não para qualquer turma: para aquela turma! Por isso que a aula nunca é igual à outra aula. A minha aula nunca será repetida duas vezes. Por quê? Porque é uma questão, uma condição, humana e porque o meu público, o meu aluno, é diferente.

A aula é para o meu aluno. Não é a minha aula, é aula para ele.

 

[Formação]

O fato de o Professor ser bastante diplomado, não significa que ele será um grande Professor.

Mas é necessário, hoje… como hoje existe uma profissão, que é a profissão de Professor do Direito, é interessante que o Professor tenha uma formação acadêmica sólida. De preferência, no mínimo, um mestrado. O doutorado… o foco do doutorado é criar pesquisadores no âmbito do direito. O mestrado, não é foco formar Professores, mas na prática ele forma Professores de Direito. E especialização torna o indivíduo, transforma o profissional de direito em alguém mais apto ao dia-a-dia profissional no seu âmbito de atuação como operador do direito.

Mas ainda é interessante conciliar experiência prática com formação acadêmica. Então, eu vejo hoje como Professor ideal, um Professor que tem uma boa formação acadêmica: que é mestre, que é doutor; mas que tenha uma experiência prática, também. Uma vivência no dia-a-dia forense, no dia-a-dia do direito. Eu acho que essa é a formação ideal do Professor.

 

[Experiência necessária]

Bom, a vivência prática que um Professor de Direito necessita ter é uma experiência como operador de direito – é bastante bem-vinda essa experiência. E a experiência como docente, como Professor: o Professor tem que dar aula.

E além de tudo, ele tem que ter uma experiência de vida. Tem que ser um ser humano; ele tem que saber que, do outro lado da cadeira, ele já esteve naquele lugar, sentado ali. Ele tem que se lembra disso, para saber qual é a necessidade do seu aluno.

Essa formação humanística, essa experiência de vida que o Professor deve ter, serve, exatamente, para superar as dificuldades que ele tem na docência, de encontrar salas de aulas com perfis diferentes; numa mesma sala de aula, encontrar uma conjuntura de alunos que têm necessidades diferentes. Existem alunos que têm uma grande facilidade. Dentro de uma mesma sala de aula, existem alunos com uma grande facilidade de assimilar a disciplina e outros alunos que precisam ser puxados pela mão mesmo, ser levados pelo Professor.

Então, o Professor, além de ter uma formação, uma experiência como docente e uma experiência como operador do direito, tem que ter uma experiência como ser humano também: como gente!

[Processo seletivo]

Nas instituições privadas, existe um critério que é bastante subjetivo, que uma análise – não do pessoal dos Recursos Humanos, mas sim – dos gestores acadêmicos, dos Coordenadores, dos Diretores. Uma análise do currículo, de formação e, geralmente, uma aula teste.

Em algumas Instituições, eu dou aula numa Instituição Pública, você ainda tem que fazer um concurso: então, você tem essa análise de currículo, você tem a análise de uma prova dissertativa e você tem também uma aula teste, seguida de uma entreviste e de questionamentos acerca da matéria.

[Perfil do profissional]

Pela própria natureza da docência, eu creio que diversas abordagens, diversos perfis, são bem-vindos. É até saudável que o aluno tenha contato com diversos Professores, com diversos perfis diferentes.

O perfil clássico do Professor de Direito inclui, também, um Professor que seja relativamente discreto, que seja relativamente bem trajado… mas enfim, alguns padrões sociais que o direito exige, que a prática do direito exige. Então, algum nível de formalismo é necessário.

Mas, hoje em dia, admite-se que um Professor seja mais descontraído, que tenha bom-humor e que tenha um padrão de linguagem que seja acessível à realidade do nosso aluno. Se não houver comunicação, se o canal de comunicação não for bastante claro, limpo, o conhecimento não vai adiantar. Então o perfil, hoje, do Professor ele tem de ser um comunicador acima de tudo.

[Profissional bem-sucedido]

Para ser reconhecido institucionalmente e pelos alunos, é necessário o mínimo de traquejo político e o mínimo de flexibilidade, para atender interesses que às vezes são interesses diversos. Qual é o resultado? Qual é o produto? A que se destina a aula?

O produto da aula não é a aula em si mesma. Não basta, não é suficiente o Professor dizer: “ Oh, eu dei a minha aula; se ele não aprendeu, a aula foi dada.”. Não é esse o ponto.

O produto, o resultado da minha aula é o aprendizado. Se o aluno não aprendeu, a minha aula não funcionou. Eu não deveria pegar meu salário no final do mês: eu ganho pelo aprendizado, não pela minha aula.

O resultado do trabalho não é a aula, o resultado é o aprendizado!


[Inspiração profissional]

Os meus amigos da pedagogia sempre dizem que, quando você vai ser Professor, você se inspira em algum Professor que você teve.

Eu me inspiro em diversos Professores que eu tive, mas ao contrário. Eu criei minha própria abordagem, minha própria metodologia de dar aula, porque eu não quero ser um Professor “clássico” do Direito, que fica numa redoma e se torna um Professor inatingível e é extremamente austero e sisudo.

Eu quero ser um Professor acessível, eu quero ter uma linguagem adequada e eu me inspiro em diversos Professores, mas parcialmente. Eu procuro criar minha própria identidade como Professor. Eu acho que o Professor tem que ter sua identidade; ele tem que criar sua própria personalidade como Professor.

[Análise da trajetória profissional]

Que conselho eu daria, para mim mesmo, há dez anos quando eu comecei na docência?! Talvez ser um pouquinho mais flexível, um pouquinho mais político, um pouquinho mais tolerante… mas eu faria tudo igual, faria tudo de novo.

 

[Perspectiva da profissão]

Nos próximos dez anos como estará a profissão do Professor de Direito?

Eu vejo um constante e um progressivo sucateamento da classe dos Professores de Direito; que está sendo fomentado por mega instituições de ensino de caráter puramente empresarial e pouco educacional.

Eu vejo isso, por um lado, como um aspecto positivo, porque houve, de fato, uma democratização do ensino que foi propiciado por essas instituições; essas instituições conseguiram levar a educação para lugares que o Estado não conseguiu.

Entretanto, o ponto negativo é que o houve, de fato, um sucateamento da qualidade da educação e um sucateamento da profissão de Professor de Direito.

Agora, a médio e longo prazo, eu creio que esse vai ser o próprio “calcanhar de Aquiles” desse sistema que se montou. Porque o diferencial vai ser qualidade; ainda vai ser qualidade. No momento, as instituições de qualidade estão até um pouco abaladas em razão dessa concorrência surpreendente. Mas num momento posterior, se essas instituições permanecerem sólidas, permanecerem coerentes e permanecerem firmes, a tendência e ter uma inversão e essas instituições se tornarem, realmente, o diferencial em razão da qualidade. E a qualidade da educação parte, primordialmente, da qualidade do Professor.

Só o Professor de qualidade, num futuro a médio e longo prazo, vai “sobreviver”: só o Professor que tiver qualidade.


[Remuneração]

Qual é o padrão de remuneração de um Professor de Direito, hoje?

O Professor de Direito hoje – nas  grandes instituições, nas grandes Redes –, ele tem ingressado nessas instituições por uma questão de aprendizado profissional, para aprender a ser Professor e tem começado com remunerações muito baixas que variam entre R$ 17 e R$ 25 a hora/aula. Uma remuneração bastante incompatível com a necessidade do Professor.

Hoje, na pós-graduação você consegue ter uma remuneração bastante interessante, variando entre R$ 100 e R$ 200 a hora/aula: aí é uma remuneração bastante interessante, em pós-graduação.

Uma boa graduação, Joe, uma graduação séria, paga, pelo menos, uns R$ 50 a hora/aula. 

[O profissional na sociedade]

Olha, o Professor de Direito, ele forma um cidadão. O professor de Direito, como qualquer Professor, em qualquer área, ele agrega conhecimento e ele forma um ser humano melhor; em qualquer área que for, no direito inclusive. Ele vai formar uma pessoa que vai cuidar de outras pessoas, vai criar um profissional que vai cuidar da vida de outras pessoas, do patrimônio, das relações familiares.

Então, é muito importante. É uma responsabilidade muito grande.


[Indicação de leitura – Confira em: www.goodreads.com/grupoitos ]

Eu vou guardar para sempre os primeiro livros que li na minha vida. Os primeiros livros que eu li foram: “Fernão Capelo Gaivota” e depois “O Pequeno Príncipe”.

Como um filósofo, um pensador, falou uma vez (não me lembro quem foi): “Tudo o que de importante eu aprendi na vida, eu aprendi no jardim de infância.”.

Eu acho que todos os valores que eu aprendi na vida, essas primeiras leituras foram as mais importantes. Eu tenho essas duas sugestões que veem sempre na memória, quando eu me lembro.


[Mensagem Final]

Qual seria uma mensagem principal para quem pretende ser Professor de Direito?

Acima de tudo, tem que se dedicar e, mais ainda, tem que amar o que está fazendo.

Como em tudo, aliás, na vida: se não amar o que está fazendo, não vai funcionar; não vai dar certo. Você pode ser um profissional até, eventualmente, bem remunerado, mas você vai ser um profissional altamente infeliz, e vai ser um profissional improdutivo; ainda que consiga ter alguma remuneração. Mas, geralmente, não vai conseguir ter.

Qualquer coisa que você fizer, que você faça com amor e dedicação, você vai ter sucesso profissional: eu garanto! 

[Divulgação]

Eu gosto tanto de dar aula, que no andar de cima do meu escritório, eu abri uma escola. É uma escola de humanidades: é uma escola que não é voltada somente para o direito. Lógico, a minha formação é jurídica. Então, eu ministro alguns cursos voltados à preparação para a OAB ou alguns cursos de reforço para a área jurídica. Mas como o foco é ser uma escola de humanidades, em geral, ela está sempre aberta para quem quer agregar, para quem quer passar algum tipo de conhecimento; a pessoas pode utilizar o espaço. Então, eu tenho sala de aula, eu tenho projetor, eu tenho quadro, eu tenho as carteiras, eu tenho espaço e, por exemplo, tem amigos meus que vão lá dar aula de filosofia; já foi um amigo meu dar aula de fotografia; nós tivemos um curso sobre Kant, recentemente, que foi fantástico. É um espaço para o crescimento intelectual das pessoas, para compartilhar conhecimento. Se alguém tiver o interesse em olhar e participar, pode curtir a nossa página no Facebook: “Escola de Humanidades Prof. Luís Carlos Costa”

( www.facebook.com/escoladehumanidades ).

De vez em quando, sempre tem um evento: são todos sempre bem-vindos lá.

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