Entrevista 15 -21/07/2015
21/07/2015 22h00 (GMT -3)
Atuária (provisões)
Se eu olhar um gráfico, ele me explica mais que dez páginas de explicação de alguma coisa.
Meu nome é Sara, eu sou Atuária, trabalho há 5 anos no ramo e eu já trabalhei em previdência e, atualmente, estou na área da saúde
[Escolha profissional]
Meu pai é economista e a minha mãe é contadora, então eu sempre vi número assim, eu brincava com a HP desde criança e eu sabia que eu queria fazer alguma coisa no ramo. Eu estava pensando muito em Economia, na época, mas um amigo da minha mãe, eu acho, comentou sobre o curso de Ciências Atuariais e aí eu fui atrás e descobri que tinha estatística, que era uma coisa que eu gostava muito, também tinha economia e tinha um monte de matéria que me interessava. Como eu não sabia, exatamente, qual era o meu foco, eu achei que ia ser uma matéria interessante. E, no final, eu dei sorte, né?! Foi bem legal. Mas eu fiz um ano de cursinho pesquisando os cursos para saber se era isso mesmo que eu queria, não foi tão na cara e na coragem.
[Função]
Na verdade, o Atuário pode fazer muitas coisas no mesmo ramo. No caso da previdência, pode-se trabalhar na precificação, em underwriting… No meu caso, eu trabalhava em provisão e o que eu fazia? Mensalmente, tinha o fechamento da empresa e a gente tinha que ver quanto que estava as nossas provisões, o que é provisão? Na empresa tem que ter um dinheiro guardado para cumprir com as obrigações dela, um plano de previdência, você pode fechar ele de várias formas: você pode comprar e caso você morra, a sua esposa recebe; caso você morra a sua esposa recebe, mas se ela morrer, os filhos recebem; caso você morra, ninguém recebe, porque vocês só tinham vitalício; ou, se não morrer, com 60 anos eu quero começar a resgatar durante tantos anos; ou não, quando eu chegar nos 60, eu quero resgatar tudo de uma vez. Você tem várias formas de receber o seu plano de previdência, tudo depende da forma como você fechar. E, a nossa função é essa, calcular o quanto você iria receber, a forma de pagamento e o que a gente iria fazer com o seu dinheiro e ver se ele estava rentabilizando, como ele estava rentabilizando e se tinha ele para te compensar lá na frente.
A precificação é, basicamente, a parte que a gente mostra o quanto você vai receber. Então, vamos supor que teve um sinistro (o sinistro é quando, provavelmente, a pessoa faleceu ou chegou na idade limite que é quando ela vai receber), e aí a gente vê o quanto ela tem que receber.
O underwriting é subscritor então ele vê o risco que a pessoa tem. Se você fala para mim que você vai fazer uma previdência, até que não tem um risco tão grande. Mas, num seguro, por exemplo, você quer fazer um seguro de um carro, você já teve o sinistro e você tem um problema; se você vai fazer um seguro de saúde, você tem problemas cardíacos? Então, o subscritor vai ver o risco que ele vai correr quando ele fechar um plano com você, porque não é só você que corre o risco de a empresa não te pagar, a empresa corre o risco de você não gerar lucro para ela.
No caso de provisões, tem a rotina mensal do fechamento, é de verificar a contabilidade, verificar se a TI tá gerando valor, porque você não tem o número de cabeça, a TI vai gerar para você e pode ser que dê algum problema no sistema, mas tem uma coisa que é muito interessante que é a conversa com a SUSEP, a SUSEP é que regulamenta a área de previdências e seguros, é a superintendência de seguros e previdências. Ela regulamenta, basicamente, tudo. Então, não é só a parte contábil, é desde você criar um produto, precisa da aprovação dela, então é diariamente que você faz um registro de um produto, faz alguma alteração, você tem que justificar para ela, explicar se ela não concordou com alguma coisa, está com dúvida do porquê que você está alterando, você tem que falar com ela. Então, o seu contato com a SUSEP é uma coisa constante, é uma coisa que você sempre tem que tomar muito cuidado para fazer uma coisa sem informar a superintendência. E aí, também chega a parte do fechamento, tem a parte contábil também, tem códigos estatísticos que você tem que informar, então ela também precisa ser informada de tudo isso.
[Formação]
O básico é a graduação de Ciências Atuariais. Em São Paulo, são poucas faculdades que tem esse curso, aqui são a USP, FMU e a PUC.
Quando você se forma, você tira o IBA, que é o número de membros IBA de todo o Brasil de Atuário, só que ele não é, necessariamente, obrigatório. Você pode trabalhar sem ele, mas você só não pode assinar e responder à SUSEP, ou à INSS, no caso de saúde, sem o IBA. Então, algumas empresas solicitam esse número.
A prova do IBA é dividida em várias matérias, então ela tem questões de estatística, algumas perguntas de Direito, algumas perguntas de Contabilidade, algumas perguntas de matemática atuarial mesmo e você tem que atingir metade da prova do IBA, então de 60 questões, você tem que acertar 30. A prova, hoje em dia, é realizada em dois dias.
Então, a pós-graduação é bem interessante até porque o curso de Ciências Atuariais é muito amplo. Você pode se formar e trabalhar em seguros, previdência, saúde, investimento, contabilidade… Então se você vai para uma área de contabilidade, é interessante você fazer o curso de Contabilidade. O curso de Contabilidade tem uma coisa interessante que é que você só vai ter que fazer 2 anos, porque como você já teve muita matéria, você só vai e complementa.
A prática em si também é muito interessante porque se você ficar 6 meses em cada empresa, você não vai ter uma prática do que se você pegar e continuar no mesmo curso. Então, depende muito do que você tem de intenção de fazer depois que você se formar.
[Perfil do profissional]
Eu me formei com bastante gente diferente, mas assim, você tem que entender número de um jeito que você bateu o olho e você não vai achar aquilo absurdo. Eu, basicamente, olho número e para mim funciona mais do que muita letra, se eu olhar um gráfico, ele me explica mais que dez páginas de explicação de alguma coisa. Entender que a experiência lá atrás tem que te ensinar alguma coisa lá na frente, porque se você vai trabalhar com estatísticas, para você prever o futuro, você vai ter que entender o que aconteceu no passado. Então você tem que ter toda essa dinâmica de lógica, não pode ser uma pessoa muito “só se estiver no livro”, “só se alguém me disser”, então você tem que ter um pouquinho de intuição também é interessante.
[Atuário ≠ Contador ≠ Estatístico]
O Atuário trabalha também com Contabilidade, também tem estatística, só que é uma visão um pouco mais ampla de todas as coisas. Ele tenta juntar várias informações para ter um parecer sobre alguma coisa. Fazer balancete não é o que todo Atuário faz, mas tem um ou outro que faz, pode se especializar nisso, mas a gente analisa balancete, não realiza balancete, tem algumas diferenças. E a mesma coisa na estatística. A gente conhece muitas funções estatísticas, mas a gente não é só estatístico, então ás vezes a gente não tem uma visão que o estatístico teria de alguma situação. A gente pode estar começando a ver alguma coisa em estatística e ir para a parte econômica da situação, então ás vezes a gente também distorce um pouco do que um estatístico veria. É um pouco diferente.
[Profissional bem-sucedido]
A vantagem do mercado é que você tem um monte de área que você pode ir, cada área é do seu jeito. O mais interessante é você conseguir saber que o passado sempre vai te ensinar alguma coisa mesmo que você não esteja na empresa. Se você está trabalhando com algum produto dentro da empresa, você tem que entender o que já aconteceu com ele para você entender o que pode acontecer com ele lá na frente. Se eu tive um produto que lá atrás eu precifiquei errado, eu tenho que saber que lá na frente eu vou sofrer consequências com ele. Então você tem que saber que todo ato que você for tomar, qualquer atitude que você tomar hoje, vai influenciar no seu amanhã, em qualquer área que você for.
Mas, para você ter uma boa classificação, você tem que saber o que a sua área vai pedir para você, se você trabalha em previdências você tem que saber que você precisa saber de contabilidade faz toda a diferença no final do mês, você vai ter que olhar o balancete; se você trabalha com saúde, por exemplo, você tem que entender que a carteira de clientes muda constantemente. Sempre que alguém entra no plano, ela pode influenciar. Se você tem uma carteira pequena, uma pessoa internada pode influenciar tudo. Então depende muito do que você vai trabalhar, o ramo que você quer ir.
Eu tenho conhecimento em Programação SAS (Statistical Analysis System), por isso eu sai de previdência para saúde. Eu não tinha conhecimento em saúde quando eu fui, mas meu diferencial é que eu sabia a programação. Muitas pessoas não sabem programação e é um curso extremamente caro que eu ganhei da empresa que eu trabalhava, o que para mim foi ótimo e eu tenho facilidade em programação e também é um diferencial.
Programação SAS, na verdade, SAS é um programa estatístico e ele pode trabalhar desde base de dados, então você pode pegar um base de dados com 1 milhão de informações, em múltiplas colunas e fazer bases estatísticas com ele, você consegue ver o que os dados estão te falando. Você pega uma base de dados e descobre porque que essa empresa está com algum problema, porque que esse produto não está gerando lucro, porque que essas pessoas estão sofrendo uma coisa, então o SAS vai dar todas as informações estatísticas um pouco mais complementares do que o Excel consegue editar, mas você tem que saber codificação, então é uma coisa que, você precisa saber digitar o código, ler o código, se alguém já fez você tem que saber informação, então é um pouco mais difícil e é um curso muito caro.
[Inspiração profissional]
Olha, quando eu me formei, aliás, quando eu entrei na faculdade, ninguém. Eu não conhecia Atuário, não sabia quem era Atuário, não sabia diferenciar o Atuário. Eu entrei no mercado e aí eu conheci meu superintendente, ele é extremamente inteligente, ele assinava balancete, ele era calmo, uma pessoa centrada que eu nunca esperaria de alguém que trabalha com números e ele tinha um conhecimento que você via que ele aplicava tudo que a faculdade te ensinava, ele conseguia aplicar no dia-a-dia dele. Então a minha inspiração foi conseguir fazer isso, conseguir ser um gestor que se eu me tornasse uma gestora um dia, que eu soubesse aplicar tanto a parte pessoal, quanto a parte profissional, tanto a contabilidade, tanto a estatística em todas as áreas que eu trabalhasse.
No meu caso é mais ele. O meu ex superintendente foi uma inspiração enorme. O meu superintendente era o Hélio Pavão, e ele foi indicado, eu acho que ele foi indicado, para ser Presidente do IBA, na época. Inclusive muitas pessoas conhecem ele, sempre foi um gestor incrível.
[Análise da trajetória profissional]
Para ter paciência, porque eu sempre quis aprender muita coisa muito rápido e às vezes eu me perdia na informação, para entender que o fluxo do negócio é mais importante do que querer ali direto, às vezes eu queria já aplicar números e eu tinha que entender que não era só número que importava, era desde a criação de um produto, por exemplo, até você conseguir ver o resultado dele. Então, acho que era uma das coisas mais difíceis de aprender.
[Perspectiva da profissão]
Para os próximos 10 anos eu não sei se vai crescer tanto assim, mas você vê que o mercado no Brasil já mudou, as pessoas hoje em dia já não fazem mais seguros, a pessoa pensa na previdência, então as pessoas já estão pensando no futuro delas hoje. A área cresce, tende a crescer, as empresas estão regulamentando, as operadoras já estão precisando de Atuário, a empresa está precisando de Atuário para balancete mesmo, para cálculos de provisão, os órgãos estão exigindo a assinatura do Atuário, então eu acho que o ramo vai crescer, só não sei se vai ter um crescimento tão interessante quanto a área pode oferecer. Muitas pessoas ainda não sabem o que é, às vezes elas são substituídas por outras áreas, então eu acho que talvez daqui 20 anos ela cresça mais, mas eu ainda acho que os próximos 10 anos vão ser melhores do que os últimos 10 anos.
[Remuneração]
Quando você entra na faculdade, no primeiro semestre muita gente já é abordada e uma das coisas interessantes é que, como a PUC não é uma faculdade tão barata e ela tem um nome bom no mercado, muita gente procura, só que você precisa de algum dinheiro para pagar. Tem empresa que já vai atrás dos alunos do primeiro semestre e oferecem pagar o curso e mais um salário, então já tem muita gente que começa no primeiro semestre. Eu comecei a trabalhar no terceiro semestre e isso já foi, relativamente, tarde porque metade da minha sala já estava trabalhando, mas no terceiro ano toda a sala já era CLT, é muito difícil você encontrar alguém que ainda é estagiário nos últimos anos, a não ser que seja opção, talvez ele ainda não encontrou o ramo que ele tem interesse e aí sim ele continua com o estágio.
De qualquer forma o estágio ele pode começar, hoje em dia eu acho que está em torno de R$1600 e R$1800, e aí depende do que você for, você pode virar, dependendo da sua empresa, se é Estagiário, Assistente, Atuário Júnior, Atuário Pleno, ou você pode ser Estagiário, Assistente Atuarial Júnior, Assistente Atuarial Pleno, Atuário I, Atuário II, Atuário 25º, então depende muito, mas o inicial assim começa entre R$1200 a R$1800, e aí depende do tamanho da empresa.
[O profissional na sociedade]
O legal é você pensar que você vai proteger a sua família mesmo que você não tenha mais condições de estar com a sua família, então o Atuário vai cuidar da sua parte financeira, independente de você estar aqui ou não, a gente vai lutar para pagar o dinheiro que você aplicou da forma que você contratou. Então se você contratou com a empresa um plano de seguro, caso você morra a sua esposa receba por 10 anos, a gente vai fazer com que a empresa cumpra com a sua função, apesar de ter órgãos que obrigam isso, a gente vai cuidar do seu dinheiro para que ele esteja lá quando você sofra o sinistro.
[Indicação de leitura – Confira em: www.goodreads.com/grupoitos ]
Um dos livros interessantes é o “Cálculo Atuarial Aplicado”, do Cordeiro, que ele tem algumas funções matemáticas interessantes, que você já consegue aplicar um pouco de comutação, as funções que você vai aprender na faculdade. Um livro interessante também é do Wilson Vilanova, “Matemática Atuarial”, que ele tem também funções desde as básicas e eu acho que ele pega até um pouco de derivadas, que também é muito básico, matemática financeira e aí vai abrindo horizontes. É bem legal o livro dele.
[Mensagem Final]
O curso não é fácil, ele é muito interessante, mas se você tiver a dúvida de matemática, talvez seja interessante repensar, você vai precisar de matemática o tempo todo. Agora, se você gosta, você vai encontrar tudo que você acha de interessante, desde lógica, aplicação de comutação, derivadas, essas coisas mais básicas também são bem utilizadas e que o mundo atuarial é pequeno, mas está em crescimento. Então vai crescer muito e vai ser legal estar ali dentro e que você pode se formar em Ciências Atuariais e seguir qualquer caminho que você queira, porque o que você vai aprender nesse curso, você vai poder aplicar de diferentes formas ao longo dos anos. Então, eu acho legal saber disso quando você vai começar o curso. Se você estiver com medo, você pode fazer que é muito difícill você se arrepender.