Entrevista 06 – 19/05/2015
19/05/2015 22h00 (GMT -3)
Jornalista de Rádio
Leva informação às pessoas, com credibilidade, com ética e com correção.
Oi, eu sou a Juliana Paiva, eu sou de São Paulo Capital, sou Jornalista, estou à 16 anos no Rádio e à 2 anos eu sou Coordenadora de Filiadas do Sistema Globo de Rádio.
[Escolha profissional]
Eu conheci o Jornalismo aos 16 anos. Eu fazia colégio técnico, em Santo André, de Publicidade e Propaganda e eles estavam procurando alunos para trabalhar no jornal da escola e eu fui a única a me candidatar para a vaga. Fui contratada, fui convocada pela escola para fazer uma matéria sobre um festival de bandas que tinha na escola. E aí eu montei a matéria. A matéria ficou muito boa. Na época, fui muito elogiada pela direção da escola, pelos coordenadores. E eles falaram: “nossa, você tem de ser Jornalista!”, “Não, não segue na Publicidade não. Jornalismo é bem legal! E você tem tino pro negócio, faça isso, vá em frente.” Mas o meu sonho era ser Engenheira Química, mas o Jornalismo, contar histórias, sempre foi uma coisa que me chamava a atenção, eu gosto muito de história e o Jornalismo é uma arte de contar histórias verídicas. Mas é uma arte de contar histórias. E aí eu me apaixonei por isso e ingressei na faculdade, e já logo na sequência, comecei a trabalhar com Jornalismo.
[Função]
Um jornalista, ele não pode ser maior que a notícia, ele sempre tem que ter isso em mente, que ele é um narrador de fatos. “Ah, está faltando água? Está em crise? Mas porquê está em crise? Porque assim, não é levar para as pessoas: “Gente, a gente está com uma crise hídrica, vai ficar todo mundo sem água, vai ter um rodízio, tá? Você vai tomar banho um dia sim, um dia não. É isso. Beijo e boa noite.” Isso não é Jornalismo. Porque as pessoas têm acesso à informação por onde? Pelos canais de comunicação. Então, minha função é ir lá questionar, trazer o máximo de informação para as pessoas, de maneira isenta. “Olha, o governo disse isso. Porém, os especialistas dizem que não. Que o governo fez ‘corpo mole’. Olha, está aqui pessoal. O governo disse isso, os especialistas dizem isso. Agora você decide.
[Atividades diárias]
O Jornalista tem que acordar informado. Eu sempre digo isso. A gente vai dormir informado e acorda informado. Obrigação moral de um Jornalista é estar bem informado. Ele tem que levantar, ele tem que ler os jornais, ele tem que acessar a internet, já tem que chegar na redação preparado para o que está acontecendo no dia-a-dia. Então, vamos supor que a gente tenha uma queda de um avião, por exemplo. O repórter vai chegar na redação, ele vai receber a pauta da queda do avião que ele já sabia, porque ele levantou bem informado, e aí ele já sabe que caiu um avião, ele vai chegar na redação, vai receber a função de ir até o local. Ele vai chegar lá, ele vai entrevistar as pessoas, ele vai procurar depoimentos, família, familiares, enfim, autoridades. Ele vai narrar para o ouvinte, os fatos do que está acontecendo no local. O editor, ele está lá já analisando esse material que o repórter está produzindo. O chefe está delegando, está dando a demanda para redação. O produtor, ele está procurando entrevistados para colocar no ar, para repercutir esse acidente. São todos no rádio, em várias funções diferentes, mas trabalhando para uma única notícia.
[Formação]
Além de frequentar uma boa faculdade de Jornalismo ou de Rádio e TV, o Jornalista, ele tem que ter conteúdo. Ninguém nasce sabendo nada. Conhecimento é uma coisa que a gente adquire ao longo da vida. Não adianta você cursar uma excelente faculdade de Jornalismo, entender de toda a estrutura jornalística, mas você não conhecer a história do seu país, você não conhecer a estrutura de uma assembleia legislativa, de uma câmara municipal, como funciona um congresso nacional, para quê serve um ministro, para quê serve um deputado. Então, Jornalista, ele tem que estudar. Ele vai morrer estudando.
[Experiência necessária]
Para o recém-formado, eu digo o seguinte: não basta você ter sido um excelente aluno, ter tirado boas notas, tirar 10 em TV, tirar 10 em rádio, na faculdade, se você não conseguir entrar no mercado de trabalho trazendo uma bagagem. Então, por exemplo, eu quero entrar no rádio. Quero ser um Jornalista de rádio. Então, eu tenho que fazer o que? Tenho que conhecer rádio, então eu vou estudar rádio. Eu vou estudar o que eu quero fazer.
Quando eu fui fazer o meu teste na primeira rádio que eu trabalhei, na rádio Jovem Pan, eu já sabia o que que eu estava fazendo ali, o que que eu ia fazer. A vaga era para rádio escuta. O que que era um rádio escuta? Eu já sabia. É um Jornalista que fica ouvindo as outras emissoras de rádio e TV e fazendo um relatório para saber o que as outras emissoras estão dando. Então, quando eu entrei, eu fui procurar saber. É o que eu falo: procure saber.
[Profissional bem-sucedido]
Para você se destacar no Rádio, você tem que ter bom discernimento do que é notícia, tem que pensar o quanto aquela notícia é útil, se fazer perguntas, se questionar. Tem que ser um grande questionador. A gente recebe releases o tempo todo, gente querendo se vender. A gente não pode sair comprando tudo, então a gente tem que ter discernimento. Além de você ter essa questão do discernimento, você tem duas vertentes do rádio: você tem que ter uma boa voz, ser um bom Jornalista, um bom questionador, um bom contador de histórias e tem também um lado que, por exemplo, foi o lado que eu segui. A minha função sempre foi analisar o que é notícia e o que não é. Eu trabalhava com a parte do discernimento. Que é a parte que menos ego tem, que é a parte que você fica de fora, você não fala no ar, ninguém grava o seu nome, ninguém te conhece. Mas, por outro lado, jornalisticamente, é a parte mais rica porque você cuida da notícia.
[Definição de Release]
Na verdade, o release, é uma pauta. O Jornalista de acessória de imprensa, ele mesmo constrói a pauta e manda. Facilita a vida dos Jornalistas, porque as redações estão trabalhando no que a gente chama de factual, que é o dia-a-dia, que é o incêndio, é a queda do avião, que é a chacina. Os outros assuntos as assessorias acabam nos ajudando.
[Inspiração profissional]
Ah, quem me inspirou, né? Na verdade, eu tenho dois grandes Jornalistas que pra mim assim, são tudo na minha vida, que é o meu primeiro chefe, o José Carlos Pereira, da Jovem Pan, que é um cara que assim, trabalhar com ele foi a coisa mais emocionante da minha vida. Eu falo e até me emociono.O segundo foi o Reali Junior que foi um Jornalista que os mais antigos conhecem. Os jovens Jornalistas não, porque o Reali morreu faz algum tempo. O Reali foi um Jornalista, a história dele é incrível que quando eu conheci eu me apaixonei por ele. Ele foi um homem que trabalhou nos anos 70, no Brasil. Era Jornalista, o pai dele até foi secretário da segurança pública de São Paulo, no governo da Ditadura, e o Reali foi perseguido pela Ditadura e ele foi obrigado a se exilar na França. E, da França, ele virou correspondente da rádio Jovem Pan e eu trabalhei com ele muitos anos, eu trabalhei com ele 9 anos. Então todos os dias eu ligava, a gente conversava sobre a pauta do dia, o que ele ia informar, eu falava para ele os meus medos, como eu entrei muito jovem na Jovem Pan, eu falava: “Ai, Reali. Ai o Zé, o Zé vai me mandar para a pauta, eu to nervosa, me mandou fazer estrada”. E ele falava assim para mim: “Juliana, não fica nervosa. Conta o que você está vendo. Jornalista é aquele que sabe contar uma boa história. Você tem que contar o que você está vendo. Só isso. Não se desespere.” O Reali quando entrava no ar ele falava com uma leveza, com um carinho assim, sabe, uma coisa… que eu comecei a aprender que assim, gente, a coisa é muito mais quando você deixa o ego de lado e passa a contar aquilo que você está vendo, a coisa fica muito mais leve, muito mais simples. E fica com mais verdade. Sabe, eu aprendi com o Reali a fazer um Jornalismo verdadeiro.
E o Zé, já o José Carlos, foi um Jornalismo de correção. De fazer a coisa bem feita. Eu acho que a gente tem que sempre fazer a coisa bem feita. Não é de qualquer jeito, não é atropelado, não é tosco. Eu aprendi com o Zé Pereira que a gente não pode ser tosco. Ele falava para mim: “Juliana, não pode fazer isso errado! Juliana, é a sua voz que está indo para o ar. Você tem que escrever direito! Você não pode sair falando assim”. A correção com o Zé e a paixão com o Reali foi assim, para mim, os dois me inspiram até hoje.
E depois, eu tive outras experiências ótimas com Jornalistas que até hoje, um eu não convivo mais que é o Heródoto Barbeiro, é um excelente Jornalista que também fazia um trabalho com muita correção, de fazer a coisa direito, de fazer a coisa bem feita. Sem pressa, sem ansiedade, sem ego. Vamos fazer direito. Respira. Analisa. E também, o Heródoto é um cara que ele conhecia muito. Também com o Heródoto eu aprendi essa questão do conhecimento. O Heródoto falava assim: “como você vai falar de alguma coisa que você não conhece?”. E hoje, o Milton Jung, é uma pessoa que eu trabalho desde de quando eu entrei na CBN, em 2008. Eu aprendi muito com ele, que é um cara assim, é um gaúcho que conhece São Paulo como ninguém. E, como ele conheceu São Paulo como ninguém? Ele foi atrás. Então, quando você tem essas referências, você vê que são pessoas que lutam todos os dias para fazer bem feito. Então, para mim assim, esses quatro são os grandes.
[Análise da trajetória profissional]
O que talvez, seu eu soubesse que seria assim e eu teria aproveitado mais, teria sido a minha juventude. Porque, o Jornalismo é uma profissão de entrega. A partir do momento que você começa a trabalhar numa redação, você vive uma vida de entrega. Então, quando eu olho para trás, poxa, eu podia viajado mais, eu podia ter me divertido mais. Eu comecei muito cedo o Jornalismo. Então, eu fui para o plantão, Natal, Ano Novo, grandes coberturas, trabalhar 20 horas. A única coisa que eu falo é que eu não me arrependo. Eu faria tudo de novo. Mas, quando lá eu tinha 18 anos, se alguém falasse assim para mim: “Olha, você não vai ter essa vida que você está tendo hoje, hein? Ó, você vai trabalhar todo feriado, todo final de semana, você está lascada. Quando você tiver um final de semana de folga vai ser uma glória…” Eu teria me divertido um pouquinho mais. Ia fazer um ano sabático.
[Perspectiva da profissão]
Eu vejo hoje o Jornalismo sofrendo uma crise. A gente está passando por uma crise de identidade. A população continua querendo informação. Só que ela acredita muito mais numa rede social do que em nós Jornalistas de veículos. Mas aí eu percebo que hoje o Jornalista ele entrou muito numa toada de ir na onda das coias, ele não se questiona mais. Então ele começa a ser superficial. E aí, a gente acaba perdendo para esse tipo de coisa.
O Jornalismo ele vai passar por uma, ele vai começar a virar o que eu sempre defendi, como especialização e não como graduação. Essa superficialidade do Jornalista vai fazer com que o próprio mercado, as próprias empresas, comecem a querer contratar gente gabaritada para o serviço. E eu acho que com o enfraquecimento também das redes sociais, eu acho que a gente começa a ter um pouquinho mais de credibilidade.
[Remuneração]
Então, um Jornalista de início de carreira, ele ganha uma média de R$2 mil, R$2.200,00, por mês. É mais por amor do que por dinheiro.
[Indicação de leitura – Confira em: www.goodreads.com/grupoitos ]
Bom, eu queria indicar 3 livros que eu acho que é super importante para a profissão de Jornalista. Esse aqui é a “Era dos extremos”, do Eric Hobsbawm, que conta um pouco do século XX, da importância. Todo Jornalista tem que conhecer a história.
Outro livro também que eu considero de extrema importância é a trilogia do Elio Gaspari, sobre a Ditadura. Esse aqui é o primeiro “A Ditadura Envergonhada”, tem mais outros dois, que também é para entender sobre um período importante da nossa vida. Um período importante também para o Jornalismo, para a comunicação. Fala bastante sobre censura.
E, o terceiro livro, que esse tem que ser de cabeceira porque eu acho que todo Jornalista tem que ter uma mão, não para esse aqui, no caso, é o “Manual de Redação” da CBN, e eu acho que não precisa ser o da CBN, pode ser de qualquer outro manual de redação, mas a gente sempre tem que ter um manual de consulta, para qualquer dúvida. A gente tem um também que e o “Manual de RadioJornalismo”, que aí tem mais a ver com a minha área, que ensina técnicas, como escrever um bom texto, como falar no ar, que eu acho bem interessante. Então tem esse daqui também que é uma outra dica.
[Mensagem Final]
A dica para você que quer ser Jornalista, o que que eu tenho que ser, o que eu tenho que fazer para ser um Jornalista? Eu acho que a primeira coisa é fazer com paixão, é você ter o compromisso social. Você tem que saber que você é um prestador de serviços, que a sua função ela é social, você tem que levar informação às pessoas, com credibilidade, com ética, com correção. Então, é amor, é ética, é paixão. Acho que é isso que vai fazer a pessoa ser um grande Jornalista. É fazer a coisa com paixão.
[Divulgação]
Quem quiser conhecer um pouco do meu trabalho, da minha trajetória jornalística, enfim. Eu tenho os vídeos que eu produzi na rádio, as minhas matérias, as minhas edições, elas estão no Portal da Imprensa é só buscar pelo meu nome, Juliana Paiva, que aí tem todas as informações da minha trajetória jornalística e sobre os meus vídeos e áudios da rádio.