O que faz uma Educadora Física? – com Dandarah Rodrigues

Entrevista 13 -07/07/2015

07/07/2015 22h00 (GMT -3)

 

Educadora Física
É muito mais eficaz você ter um profissional que te oriente

Oi, eu sou a Dandarah, eu sou Educadora Física e exerço a profissão a 5 anos e sou de Santo André/SP.


[Escolha profissional]

Desde pequena, a minha mãe sempre me colocou em atividades físicas. Então ela me colocou na capoeira, me colocou na natação, me colocou no handebol, no basquete e eu sempre gostei, mas nada relacionado a “eu vou ser Educadora Física”.

Só que quando eu tinha mais ou menos 11 anos, ela me colocou na ginástica artística e aí foi o esporte que me identifiquei muito, não foi somente “ah eu gosto”, eu fiquei louca por esse esporte, uma coisa assim fora do normal e aí eu comecei a me identificar com meus professores. Eu comecei no EMEIEF perto de casa e aí eu fiquei insistindo para minha mãe me colocar na ginástica lá no Sesi, que era o “point” da época. Lá no Sesi eu conheci minha professora, a Patrícia, me identifiquei muito com o trabalho dela e o Sandro que era o meu técnico também. Eu comecei a admirar o trabalho deles, o carinho que eles tinham pela modalidade, a rotina deles me interessou muito e com 13 anos eu resolvi que eu ia fazer educação física para ser professora de ginástica artística.

 
[Função]

O que me encanta mais na nossa área é que a gente tem diversas funções, né?! Tanto quando você entra na faculdade, você está naquele seu mundinho, eu pelo menos só no mundo do esporte eu trabalhava, que eu treinava, você expande explodir possibilidades: tem desde o educador físico atuando na empresa, como ele atuando nas áreas esportivas e nas escolas. Você pode trabalhar com a ginástica laboral; você pode trabalhar na área escolar, mas dando aulas de educação física; você pode trabalhar no esporte como técnico ou nos esportes como equipes de base; escolinha; você pode trabalhar em reabilitação de idosos; reabilitação de crianças com necessidades especiais… Então tem muita área, tem vários ramos para trabalhar na educação física.

Na minha área em específico eu sou professora de ginástica artística sou especialista da modalidade ginástica artística, sou árbitra também da modalidade e, atualmente, estou trabalhando com crossfit que é uma área do fitness.

[Atividades diárias]

No clube, a gente exige um pouco mais, então a gente trabalha todos os elementos. No clube, a gente tem os quatro aparelhos e na escola a gente visa os jogos escolares, que são todas as crianças que têm interesse em fazer ginástica artística e a gente pega a rotina diária com base nos elementos, nos exercícios que vai pedir nos jogos escolares.

Como eu trabalho com a ginástica artística feminina eu dou solos, que são os exercícios que a gente faz no chão: estrela, rolamento, até os saltos mortais. Trave de equilíbrio, que é um aparelho onde a ginasta, tem 10 centímetros de largura, ela tem que se equilibrar, trabalha bastante o equilíbrio. O salto sobre a mesa, que é onde ela vem correndo e executa o salto e as barras paralelas assimétricas, aquela barra que ela se pendura (falar de uma forma bem leiga para todo mundo entender), e faz os exercícios, os giros.

 

[Formação]

Para trabalhar com educação física tem a faculdade de educação física e aí a pessoa vai se especializando. Eu, por exemplo, sou pós graduada em treinamento desportivo. Aí você vai fazendo o segmento de cursos na área que você tem interesse em trabalhar.

Quando você faz a faculdade, isso é óbvio que você vai saber se você serve para ser professor ou não, porque acontece, às vezes, porque vários amigos meu aconteceu “ah, eu sou atleta de tal modalidade, quero dar aula”, e vai fazer Educação Física, fazer futebol e quer dar aula de futebol. Quando você começa na faculdade você vê que não é isso que eu quer, eu acredito que a maioria chega no primeiro semestre ou até no primeiro ano no máximo e já vê que não é isso que quer fazer, porque já no primeiro ano você começa a ter estágios não remunerados,  onde você começa a ter trabalhos que você tem que imaginar que está dando aula para tal turma, e aí você percebe que o dia-a-dia do professor não é só aquela coisa bonita que você vê em competições, por exemplo, vou falar da minha modalidade: não é só aquela coisa linda que você vê na competição de “ah, aluna dela tá lá, ganhou medalha e tá todo mundo aplaudindo e você tá abraçando o aluno”, você tem que enfrentar várias coisas, desde as dificuldades que o aluno têm, tem que ter muita paciência porque, às vezes, o aluno pode ser um talento, mas tem a família, tem o psicológico que envolve tudo isso. Então acredito que a pessoa vai se adaptando aos poucos. Então, 4 anos de faculdade você está apto a fazer teoricamente, mas acredito que a prática do dia-a-dia você vai ganhando mais experiência.

Você tem que se especializar, porque hoje em dia, por exemplo, na Internet você tem acesso a tudo. Eu que dou aulas para adultos, o adulto hoje em dia têm acesso na Internet, “para quê serve esse exercício”; o adolescente sabe que “se eu alongar dessa forma vai ser melhor pra fazer”. Tem aluno que chega aqui com os exercícios interessantes e têm alunos que chegam com exercícios absurdos, antigos de fazer determinado exercício. Então tem aluno que não conhece seus limite e é o ideal o professor estar lá, pois além de a gente saber educativos corretos para a criança chegar, no seu processo, ela vai chegar, ela vai chegando aos poucos a fazer o exercício que ela deseja, a gente tem todo o treinamento de pronto socorrismo, a gente tem o treinamento de psicologia, a gente tem duas matérias de psicologia na faculdade onde somos orientados a conversar com o aluno, a explicar pra ele que as coisas não funcionam daquela forma,  então é muito fácil você pegar uma aula de Zumba na internet e você começar fazer aula, é prático, só que é muito mais eficaz você ter um profissional que te oriente, porque além de ele corrigir, às vezes você olha uma pessoa olha uma pessoa na Internet fazendo o exercício, você acha que você está fazendo certo e você vai ver que não está certo. Se alguém te filmar, você vai ver que você não está reproduzindo aquilo. Então, precisa do Professor, para ele te mostrar “olha, tem que corrigir o seu braço”, “você tem que alongar mais dessa forma que vai te ajudar nisso, naquilo”, por isso que eu digo que é importante se especializar, se atualizar sempre para a gente superar essas informações.

 

[Perfil do profissional]

Bom, não tem uma característica “X”, de “tem que ser assim”, igual todo mundo acha que “ai, você para ser educador físico, obrigatoriamente, você tem que ter um corpo sarado, você tem que ser o top”, não, eu acredito que o principal é você se identificar pelo o que você faz, você gostar daquilo. Eu também acredito muito que se você é um profissional de educação física, você não, necessariamente, precisa ser um atleta, isso é uma questão muito pessoal, você não precisa ser um atleta, você não precisa ser um supercorredor ou um superginasta, mas acredito que você também tem que fazer o que você acredita, então se eu acredito que é importante eu fazer 30 minutos de atividade física todos os dias para melhorar, porque não é só, a gente não pensa em estética, vamos pensar aqui na questão da saúde que é o que vale mais para o ser humano. Então, se eu acredito nisso, se eu prego isso para as pessoas, eu também tenho que fazer isso por mim, tanto pela minha saúde, tanto para orientar meus alunos, então eu acredito que a pessoa que faz educação física, ela tem que gostar de atividade física porque o tempo todo você vai estar lendo sobre isso, você vai estar fazendo isso, você vai estar lidando com pessoas que vão te mandar mensagem de madrugada se você for um Personal, acontece muito com uma pessoa que está focada, que tem o interesse, então se você não gostar, você não vai querer fazer, por exemplo “ai, alô professor, ontem eu corri 1 km!” e você “ah, para quê correr? Porque não ficou na cama dormindo?”, então o profissional de educação física ele tem que ter, realmente, esse interesse pelo o que ele está fazendo. Eu falei de madrugada brincando, mas acontece, por exemplo, os que vão viajar no final de semana e você quer um treino para fazer, então ele dá uma perguntada no WhatsApp que está bem fácil para o seu técnico, para o seu treinador: “e aí, pode me passar um treino para fazer? Eu estou aqui na praia.” É lógico que, eu não vejo problema, se eu estiver disponível, em dar uma assessoria para a pessoa de uma atividade física que ela possa fazer, mas acontece.

[Profissional bem-sucedido]

Na educação física, o que faz um profissional ser um destaque eu acredito que seja o empenho e a dedicação pelo o que você tem no seu trabalho, dependendo do que você trabalha. Por exemplo, na ginástica, a todo o momento a ginástica artística, uma pessoa para trabalhar na modalidade, ela tem que ser realmente, vou falar em treinamento, que é uma área que eu gosto muito, então você trabalha com o treinamento de ginástica, além de você ter que ser dedicado, porque normalmente finais de semana você está lá trabalhando nos ensaios, você tem que ser uma pessoa muito crítica, tem que ser um profissional rigoroso, tem que ser um profissional que ele tenha mesmo noção da modalidade para ele poder exigir dos alunos determinada quantidade de exercícios, então para você ser bem sucedido nessa área eu costumo dizer que o espelho do técnico é a equipe. Se você tem uma equipe toda bem trabalhada, mesmo que ela faça poucos exercícios, mas são exercícios, que na ginástica tem muita perfeição, são exercícios caprichados, bem alinhados, você nota que o técnico é bom.

Tratando diretamente da minha área que eu sou especializada e tudo mais, eu acredito que seja persistência, o quanto você se dedica a isso, estudar sobre a modalidade, passa a ser bem sucedido.

[Inspiração profissional]

Na verdade, a grande inspiração de tudo, que me incentivou que eu tinha mesmo que fazer o que eu gostasse, é a minha mãe que sempre me ensinou a lutar até o último momento, se você gosta disso, você vai até o final e for falar em inspiração profissional, se eu falar em inspiração da área, são os meus professores da área ginástica artística, são grandes inspirações onde eu comecei a me enxergar ali.

[Análise da trajetória profissional]

Eu daria o conselho para sempre acreditar nos sonhos, porque quando eu iniciei na educação física, na faculdade, eu só arrumava trabalho na área que não era a da ginástica artística e demorou um pouco, realmente, para eu entrar na área, trabalhar com a ginástica mesmo que fosse iniciação, então se eu conhecesse a Dandarah que estava estagiando lá em outra área, eu diria para ela não desistir, assim como eu não desisti. Que, apesar da dificuldade, uma hora eu ia entrar na modalidade que eu sempre quis.

[Perspectiva da profissão]

Bom, a gente vai ter Olimpíadas aqui no Brasil, acredito que vai divulgar muito o esporte. Eu acredito e espero que a nossa área esteja mais reconhecida, que haja mais projetos em clubes, abrindo portas não somente para o futebol, abrindo portas para outras modalidades, principalmente, ginástica artística.

[Remuneração]

Bom, média salarial de estagiário, a média padrão chega a no máximo R$700 e de um profissional que trabalha em, normalmente, escolas particulares pagam melhor, dependendo da academia. Para você conseguir um salário melhor você tem que investir no Personal ou em alguma outra especialização. Eu acredito que trabalhando em meio período gira em torno de R$1 mil, R$1500.

[Indicação de leitura – Confira em: www.goodreads.com/grupoitos ]

Quem quiser saber um pouco mais sobre ginástica artística pode pegar os livros de Nestor Soares Publio, que ele fala desde a origem ginástica e um livro que me inspira, uma pessoa também que é inspiradora, que é o Técnico Bernadinho, um livro que gostei bastante de ler foi o “Transformando Suor em Ouro”, muito bom.

 

[Mensagem Final]

A nossa área, infelizmente, não é uma área que você vai ter o melhor salário, mas se você trabalhar muito, você for diferenciado, você consegue um salário bem melhor, com certeza. E, para a pessoa que está começando, eu sou suspeita de falar, mas sou muito feliz com a minha profissão, eu realmente tive alguns momentos em que eu desistia da área, graças a Deus já passei essa fase, mas passei por uma fase que eu estava achando que eu não ia conseguir chegar onde eu queria, ainda  lógico, tem bastante coisa para alcançar, mas parra quem está começando, eu digo: “sejam bem vindos, com certeza a educação física ela agrega coisas, não somente para as pessoas que você ajuda, mas para você também. Eu, na educação física, eu consegui os melhores alunos, os melhores amigos e a melhor profissão. Eu sou muito feliz com o que eu faço e não me imagino fazendo outra coisa.”

Comente aqui: