Entrevista 04 – 05/05/2015
05/05/2015 15h05 (GMT -3)
Professora de Língua Portuguesa
Leciona a disciplina para os Ensinos Fundamental, Médio e Superior
Olá. Eu sou a Rosi. Professora de Língua Portuguesa. Sou aqui de Santo André/SP. E estou na área da Educação desde 2000.
[Escolha profissional]
Eu sou Professora de Língua Portuguesa, porque eu sempre gostei muito da matéria em si. Desde criança, eu sou Professora. Na 4ª série, eu tinha uma Professora que ela dava muitas funções para os alunos fazerem, isso atualmente não pode. Mas, antigamente, a gente fazia.
Desde que eu era criança, eu costumava escrever na lousa, ela deixava com que a gente olhasse o caderno dos outros alunos, então eu dava visto. Então, eu sempre gostei de fazer isso. Sem falar, que como eu tinha facilidade com análise sintática, vira e mexe eu ia às casas das coleguinhas, ensinar para eles como é que fazia aquilo. E outras matérias também.
Por causa disso, eu sempre falei que queria ser Professora. Quando cheguei na Adolescência, devido às questões da profissão, eu meio que reneguei. Mas aí Deus falou assim: “Não filha, esse é o caminho mesmo, você vai ter que ir…”. E daí, eu entrei de cabeça na profissão.
[Função]
Ser Professor, na verdade, é algo muito maior do que a própria profissão. Porque, quando a gente decide ser Professor, e quando a gente, realmente, entra em sala de aula, a gente percebe que tem a oportunidade de mudar um pouco o mundo. Conhecimento é, justamente, isso: você ampliar a visão da pessoa. Quando você leva para eles, o pessoal pensa: “mas onde eu vou usar a análise sintática?”. Com a análise sintática, você consegue escrever bem, com os livros de literatura você se intelectualiza, passa a ver o mundo de uma forma muito diferente.
E, você mostra para a criança, os diversos pontos de vista. O ser Professor, é realmente, antes de qualquer coisa, é dar conhecimento para essa pessoa e ampliar o ponto de vista dela.
[Atividades diárias]
O Professor de Ensino Fundamental, ele precisa preparar as aulas de redação, gramática e interpretação de texto. E do Ensino Médio, é gramática, literatura, redação e interpretação de texto. São dinâmicas diferentes, porque as aulas gramaticais, elas são meio que descontextualizadas, da literatura. Você precisa preparar aula, semanalmente, focando naquilo que você vai levar para os alunos. Ao mesmo tempo, tem que ter cuidado com a escolha do material, porque Professor de Português tem que sempre estar trabalhando com questões da atualidade: isso faz parte da comunicação.
Não é apenas ensinar a língua, mas ele precisa também, inserir os alunos no mundo que ele está vivendo. Afinal de contas, é uma comunicação. Então, o Professor também esta inserido em Redes Sociais, para não só poder dialogar com os alunos em sala de aula, mas também para orientá-los; porque aquilo também é uma forma de comunicação. E o trabalho de redação também, ele é muito preciso, no sentido de que o aluno faz a redação, você traz para casa, não é só apontar erros, você tem que dialogar com o aluno naquela redação, ou até mesmo na redação da prova, para que ele saiba, exatamente, onde ele está errando, e o que ele deve melhorar.
A partir do momento que você sabe, exatamente, onde ele erra, e o porquê ele erra, você consegue preparar melhor.
[Formação]
São 4 anos de faculdade de Letras, em Licenciatura. Em Bacharelado, também. Mas, o Bacharel em Letras, ele vai cuidar de outras áreas, que vão ser: revisão, redator… Tem profissionais em Letras que trabalham com secretariado. Na verdade, faculdade de Letras, é bastante ampla. Agora, para se tornar um Professor de Língua Portuguesa, você precisa fazer, no mínimo, esses 4 anos, de Licenciatura.
O ideal é que depois ele continue fazendo especializações. Precisa sim, sempre se reciclar.
[Experiência necessária]
A experiência anterior, para o Professor estar mais ou menos pleno no início da carreira, com certeza é o estágio. O estágio, conversando com professores que já estão atuantes, ou, até mesmo, dependendo do seu público, um contato maior com eles. Pessoas que tem contato com grupos de jovens, sejam eles de igreja, sejam eles de escotismo, acaba entrando na sala de aula com uma maior facilidade, e reconhecendo ali, com mais naturalidade, a realidade do aluno.
Essa é a questão de ser Professor. Não é, simplesmente, chegar e falar, e dar a aula, você tem que saber como ele pensa. O estágio é importante para você pegar, através de outros Professores, a experiência mesmo. Com a questão disciplinar, como é que o Professor agiria naquele momento de indisciplina?
Quando nós entramos na sala de aula, o Professor também é um ser, extremamente, inseguro. No início da carreira, é muito inseguro. Porque a gente não sabe como vai falar com as pessoas, se aquelas pessoas vão aceitar a nossa intromissão, porque a gente está se intrometendo na vida deles. A gente está também sendo educador. A gente está educando aquelas crianças. Eu falo para eles: coisas que não tem em casa, às vezes. Então, até onde eu posso falar algumas coisas, até onde eu não posso, questão de ética, mesmo. Até liberdade de expressão. Você vai aprender isso dentro do estágio, conversando com os profissionais. E, como eu disse, em contato com grupos de jovens. Você precisa conhecer o seu público. Precisa ir aonde o seu público vai.
Se o aluno não sentir uma ligação com você, você só vai ser mais um; você vai ser uma televisão na “vidinha” dele. Aquela televisão que você liga e deixa falando enquanto você faz outras coisas? Vai ser assim na sala de aula também.
[Profissional bem-sucedido]
Para se destacar como Professor de Língua Portuguesa, você, primeiramente, tem que amar muito o que você faz. Você precisa mostrar para o aluno que tudo aquilo faz sentido, que aquilo tem sentido.
Porque, as pessoas o que pensam, primeiramente? “Ah, é Língua Portuguesa? Eu falo, então não é ciência.” E não é bem por aí. Língua Portuguesa também é ciência. Você precisa mostrar para o aluno que ele aquelas normas e regras não estão ali porque Deus quis, tem um motivo. Se ela não faz sentido para você, enquanto Professor de Língua Portuguesa, se uma análise sintática não faz sentido para você, então você vai ter que estudar aquilo mais à fundo para saber o porquê que é daquela forma, para você poder passar aquilo para o seu aluno. Porque o aluno vai te perguntar. O “onde eu vou usar isso na minha vida?” vai ser inevitável.
Tá, tudo bem, qual é a função que a gente tem? Não fazer o menino decorar todas as nomenclaturas. A gente vai ensinar porque se ele decidir ser um profissional de Letras, vai ajudar no futuro. Acima de tudo, é ele internalizar aquilo, para que na hora da escrita e da comunicação, ele consiga fazer isso com mais naturalidade e saiba o que está fazendo. Então, para ser, realmente, um bom profissional, você precisa estudar, e você precisa, antes de tudo, que aquilo tudo faça sentido para você. Você tem que correr atrás, sim. Não é aquela questão de: “Ah, não sei, não entendi, então depois eu vejo isso, ou não me importo.” Não, você tem que ir lá buscar as respostas.
[Inspiração profissional]
A minha inspiração, em Língua Portuguesa, neste momento, são todas as pessoas. Porque, a forma como as pessoas falam, se comunicam, como é visto o mundo, isso me encanta. Então é isso que me faz estudar ainda mais a língua, para entender como tudo isso funciona, e como que isso deve ficar registrado, para poder ajudar os futuros estudos. Eu tenho dificuldades também de aprendizagem, não é fácil para eu entender alguma coisa e eu sei que essas dificuldades vão ajudar os outros.
E, como eu quero, como eu falei, mudar o mundo, eu espalho isso. Então, eu aprendo para ensinar.
[Análise da trajetória profissional]
Se eu tivesse a oportunidade de me ver em 2002, eu diria: “Menina, tenha paciência, olhe para os seus alunos como crianças porque eles estão aí para aprender com você. Antes de tudo eles são crianças.”.
No início da profissão eu tive problemas com a questão disciplinar, porque eu não entendia isso. Eu acabava tratando os alunos da mesma forma. Quando eu entrei em sala de aula mesmo, com 24 anos, eu não sei se eu era muito mais jovem, mas eu acabava vendo os meninos de uma forma muito igual. Então eu não tinha paciência. E não é assim. A gente tem que lembrar o tempo todo que eu sou adulto e eles são as crianças. O que eles vão fazer com a gente são justamente brincadeiras. Mesmo que eles estejam ali te cutucando, aquilo é brincadeira juvenil. Você vai ter que alcançar o seu público, não o contrário. Tenha muita paciência, para poder saber que eles são crianças.
Se eu tiver uma autoridade, eu imagino a autoridade diferente, eu dou aula para todo mundo, desde o Ensino Fundamental, à faculdade, Dependendo do meu público, eu me transformo para eles. O Professor é ator também. Tem que ter esse feeling, ele precisa perceber quando a aula está pedindo algo novo ou não. Se colocar de acordo com o público dele.
[Perspectiva da profissão]
Daqui a 10 anos pode ser que a profissão esteja completamente igual, como ela esteja inserida em diversas disciplinas. Porque, se realmente acontecer isso, que estão falando, de mudar a grade do Ensino Médio, principalmente, e que vão tirar as divisões da matéria, Língua Portuguesa, vai acabar se inserindo em todas as disciplinas.
Então, o Professor vai ter que saber como aplicar a questão dos gêneros, de estudo de gêneros, que isso é muito importante. Ele precisa saber como vai aplicar essa questão do preconceito linguístico, e como vai ser a língua efetiva. Como, comunicação mas também como ciência. Tudo isso vai ter que ser visto com muita seriedade.
Então, daqui a 10 anos, pode estar, exatamente, como está hoje. Como pode haver, realmente, essa mudança. O profissional vai ter que estudar, vai ter que se reciclar, para entender como aquilo vai ser colocado.
[Remuneração]
Bom, a média salarial do Professor de Língua Portuguesa, é um pouco mais alta, justamente, porque o profissional já entra com carga completa. Geralmente, são 5 aulas por semana, 6 aulas, 7 aulas, por semana, depende da escola.
Na rede pública, deve estar girando por R$2000, R$2500. E, na rede privada, vai depender, porque nós temos todos os tipos de escolas, a gente têm as escolas que pagam muito pouco, que elas pagam equivalente a escola pública, como a gente também têm as escolas de top, de top de linha.
Então, se o Professor da escola top estiver ganhando cerca de R$10 mil, R$12 mil, o Professor de Língua Portuguesa vai ganhar isso, mais ou menos. E das escolas com os valores mais baixos, ele também vai ganhar por cerca de R$2 mil, R$2500.
[Indicação de leitura – Confira em: www.goodreads.com/grupoitos ]
Em Língua Portuguesa, o que me inspirou, o pessoal vai falar: “essa menina é muito nerd”, mas, assim: eu amava os meus livros de Português porque eles sempre tinham “historinhas”, e “quadrinhos”, e contos, e textos, e eu sempre gostei muito de ler aquilo. E, quando eu decidi ser Professora, justamente, pela facilidade que eu tinha, eu lembrei também desses livros didáticos que eu gostava demais.
Mas, pensando em questão artística em si, porque a língua doma arte, por incrível que pareça, o que me inspirou bastante foi isso daqui: foi Legião Urbana, porque o Renato Russo fez a composição da música de Camões, que é Monte Castelo, com trechos de Coríntios I, da Bíblia. Quando eu descobri aquilo eu achei um máximo. Eu quis, justamente, estudar essas questões de origem.
Um outro filme, uma outra obra que também me inspirou bastante, foi “Sociedade dos Poetas Mortos”. Eu queria ser uma poeta morta (no bom sentido).
Na faculdade o que me inspirou a continuar a me reciclando, vamos dizer assim, foram as aulas de Filologia, que é o estudo da língua, por meio de documentos antigos. Durante a faculdade, eu tive uma grande Professora, a Clarice Assalim, e depois eu fui estudar isso daqui e é isso que me inspira a cada dia. Então, a cada obra que eu conheço, é uma nova inspiração.
[Mensagem Final]
Para você ser um Professor de Língua Portuguesa, primeiro: goste muito de ler e de se preparar. Segundo: goste muito de gente, porque você vai ter que ouvir antes de você falar, você tem que ouvi-los.
E, a questão da correção, que tem que falar tudo certinho o tempo todo, calma, a gente vai ver que não é bem assim. Na faculdade, isso já é demonstrado que não é bem assim. Mas, você precisa também saber se colocar. Você vai ser cobrado por isso. Você vai ser também criticado por isso, você vai ser julgado por isso.
Então, o Professor de Língua Portuguesa, vai ter que estar preparado para todas essas funções e essas menções.
[Divulgação]
Então, gente se vocês quiserem conhecer o meu trabalho, além de Professora de Língua Portuguesa, na rede particular, eu também sou Professora Universitária e pesquisadora da USP. E, atualmente, eu faço parte do projeto Dialeto Caipira, que é o Dialeto Caipira 2, que é para o estudo da história do português em São Paulo.
Então, quem quiser conhecer um pouco do nosso trabalho, dos nossos artigos, basta entrar no Google e digitar meu nome completo: Rosicleide Rodrigues Garcia, que já vem as minhas produções. Além disso, tem a minha dissertação de Mestrado, que foi publicado em livro, “The caipira dialect in Capivari: Vol. 1 e 2”, só que são dois volumes, e esse aqui está na Amazon.com.
E meu livro em Língua Portuguesa, “Testemunhos do Século XIX da História de Capivari”, que são alguns documentos da cidade que foram publicados, editados agora para o século XXI, e serve tanto para Historiadores, quanto Filólogos, ou qualquer pessoa que queira saber um pouco mais da própria história da região. E, também um capítulo da história de Capivari e dos estudos linguísticos no “História do Português Paulista”, Volume III, que pertence ao projeto Caipira. E, no livro “Percorrendo Trilhas Filológicas”, há também um capítulo dos estudos em relação ao documento de Capivari, e esses livros aqui para serem adquiridos, eu tenho que dar uma olhadinha no site, porque eles são livros da faculdade. Mas, é só baixar ou entrar no Rosicleide Rodrigues Garcia, no www.edu.com, que estão meus artigos científicos, aí você podem estudar à vontade.