O que faz uma Psicóloga Clínica? – com Iara Rodrigues

Entrevista 05 – 12/05/2015

12/05/2015 19h05 (GMT -3)

 

Psicóloga Clínica
Trabalha com o inconsciente do ser humano

Boa tarde, pessoal. Meu nome é Iara. Sou Psicóloga. Trabalho aqui em Santo André, na rua Oratório. Sou formada há 10 anos nessa área de Psicologia e eu vou bater um papo com vocês hoje.


[Escolha profissional]

Bom, minha história, de porque que eu escolhi Psicologia, é longa, né? Começou lá atrás fazendo magistério. Eu me formei no magistério e achei muito interessante, observando o comportamento das crianças, ao longo dos estágios. E esse estudo do comportamento sempre me deixou muito curiosa. O porquê que aquelas crianças faziam aquilo, qual era o motivo, e aí eu fui estudar psicologia depois ainda de alguns anos estudando a educação eu decidi. Muitas colegas seguiram carreira de pedagogia e eu decidi fazer Psicologia para entender um pouquinho sobre o comportamento humano.

 
[Função]

Eu sou Psicóloga Junguiana, a gente chama de Psicologia Analítica. Dentro da Psicologia, a gente têm vários ramos de Psicologia. Então tem a Psicanálise, tem a Winnicottiana, a Lacaniana, então tem várias linhas de trabalho. Eu sou Psicóloga Analítica, me formei como Psicóloga Junguiana. Jung, ele trabalha muitos anos ao lado de Freud, a Psicologia Analítica, ela tem uma base da Psicanálise. Porém, no meio do caminho, eles se separaram. Não concordaram com algumas opiniões um do outro e aí Freud se dedicou à Psicanálise, se aprofundou. E o Jung fez a Psicologia Analítica. Tem muitas coisas que diferem uma da outra.

A minha profissão, a minha linha de trabalho que é a Analítica, a gente trabalha com diversos métodos, diversas ferramentas. No meu caso, por exemplo, eu faço uma análise do paciente dentro da mitologia grega, a gente trabalha sobre mitologia, a gente trabalha sobre contos de fadas, uma análise de sonhos também. Um pouquinho diferente do que é Psicanálise. E todos nós trabalhamos com o inconsciente. É o nosso propósito trabalhar com o inconsciente daquela pessoa. Então, dentro do consultório clínico, a gente tenta trabalhar com a questão do ser humano estar bem com ele mesmo.

Como que eu posso trabalhar isso, né? Através dos sonhos, através de uma argila, através de desenhos, através de histórias. Então existem, dentro da minha clínica, eu trabalho de várias formas tentando associar livremente as ideias do inconsciente do ser humano.


[Atividades diárias]

O Psicólogo ele precisa acompanhar, semanalmente, cada paciente, de um jeito único. Então, para que você consiga atingir, para que você consiga atender o seu paciente, para que ele consiga elaborar, que ele consiga associar, para que ele consiga colocar as coisas no consultório mesmo, livre ali para o terapeuta, o terapeuta precisa de uma especialização antes disso.

Ele precisa se preparar para aquele indivíduo, especificamente com ele. Levantando algumas questões antes de atendê-lo, fazendo umas pesquisas. No meu caso, mensalmente eu participo de um grupo de supervisão, aonde a gente discute caso, onde a gente estuda caso. Precisa constantemente estar entrando em contato com o nosso Conselho, para entender e seguir tudo de acordo com as leis do Conselho de Psicologia autoriza; entrando em contato com ovas leis; entrando em contato com relatório, entrando em contato com o próprio profissional que está atendendo esse paciente. Geralmente esse paciente ele não vem para mim porque por livre e espontânea vontade. O maior número de pacientes que me procuram são encaminhados por algum profissional da área da saúde. É um Endócrino, é um Psiquiatra,  o próprio Nutricionista. Então, antes disso já tem que ter esse contato com esse profissional que encaminhou ele. É de extrema importância que se compareça dentro do consultório, que marque uma sessão a parte. No caso de crianças, acompanhamento escolar, vá até a escola conversar com o Coordenador. Preparar tudo antes para conseguir atender esse paciente. 

[Diferença entre Psicólogo e Psiquiatra]

A diferença entre um Psicólogo e um Psiquiatra, é simples. Eu consigo dizer para você assim: um Psiquiatra, ele tem todo um estudo, uma avaliação com cada paciente e ele é um profissional que pode medicar. O Psiquiatra ele vai ouvir essa queixa, geralmente ele encaminha para fazer um acompanhamento paralelo e ele vai medicá-lo.

E, ele pede para que o paciente faça um acompanhamento, semanalmente, com o Psicólogo. E aí entra o trabalho do Psicólogo sem receitar, Psicólogo não receita, Psicólogo nenhum pode indicar que o paciente tome esta ou aquela medicação.


[Formação]
Bom, o Psicólogo precisa fazer uma graduação, ter uma formação superior em Psicologia. E aí, após isso, é fazer os seus cursos paralelos. Porque a graduação ela é muito, é uma experiência muito vaga, na verdade. Então ele precisa fazer um outro curso paralelo.

Precisa ter um conteúdo a mais, precisa se aprofundar, precisa fazer também a sua terapia individual. Então o Psicólogo, ele não pode montar uma clínica sem ter todo esse embasamento teórico e também resolver as questões particulares. Então, além da graduação, o Psicólogo ele precisaria também fazer esses atendimentos paralelos, né?

[Experiência necessária]
Bom, o estudante de Psicologia, no ano de formação ele tem uma demanda muito grande de pacientes que rodam dentro da Clínica Escola e eles vão fazer essas experiências, tudo o que eles aprenderam durante 4 anos, teoricamente, eles vão colocar em prática nesse 1 ano de clínica. Mas é preciso ter um atendimento supervisionado, ele não pode, simplesmente, achar que o tempo que ele tem de estudo, de conhecimento, aponto de ele começar a fazer o atendimento com, por exemplo, um quadro de depressão.

Todos nós temos as nossas questões pessoais. Então, quando você leva isso para dentro de um atendimento com o teu paciente, você tem que estar com essas questões resolvidas. E, é claro que ninguém é perfeito, diante de um atendimento, tem coisas do paciente que você se identifica. E aí você não consegue nem caminhar com você e nem caminhar com o teu paciente, porque a sessão e a terapia não é sua, é do teu paciente. Então ele tem que fazer.

Um Psicólogo recém-formado, ele precisa de um Psicólogo também para auxiliá-lo nas questões pessoais e na questão também de supervisão com aquele paciente, né? 

[Perfil do Psicólogo]

Para a pessoa escolher a profissão de Psicologia, ele tem que ter prazer por aquilo que ele faz e entender que tudo que ocorre dentro do consultório tem que ter uma postura de Psicólogo.

Sigilo acima de qualquer coisa. 


[Profissional bem-sucedido]

O Psicólogo para ele se destacar, ele precisa buscar informação constantemente, buscar cursos, se aprofundar em um tema, ele precisa ter troca de informações com grupo de terapeutas, ele precisa colocar as questões que estão afetando ele dentro daquele atendimento com outros profissionais, fazer essa divisão, grupos de estudo, palestras, participar e ter contato com outros profissionais da área da saúde.

Como eu falei, é um paciente que te procura e que foi encaminhado pelo Psiquiatra? Então, entrar em contato com esse Psiquiatra, trocar informações a respeito, para buscar a melhora da qualidade de vida, de novo, desse paciente.

[Psicólogo e Terapeuta]

Eu não vejo que há um problema de você chamar um Psicólogo de Terapeuta. O Terapeuta é aquele que faz um tratamento terapêutico com o seu paciente, uma terapia. E, dentro do meu consultório o que eu faço com o meu paciente nada mais é do que uma terapia. Então eu não vejo nada demais você chamar um Psicólogo de Terapeuta. Nós temos outros métodos de terapia também, então são todos aqueles profissionais dedicados a atender e a equilibrar o seu paciente.


[Inspiração profissional]

Eu tive uma Professora de Psicologia, foi no 2° ano, eu fiz 4 anos de magistério. Então no 2° ano eu tive essa Professora de Psicologia e as técnicas que ela abordava a aula, o jeito que ela falava sobre desenvolvimento da personalidade, aquilo brilhou os meus olhos. Aquela Professora que eu tive foi a que acendeu uma “luzinha” lá dentro de eu me questionar cada vez mais.

E, depois de formada eu quis estudar um pouco mais de Jung, um pouquinho mais sobre essa análise de sonhos, e aí eu me encantei, e me apaixonei pelo Jung. Foi o segundo brilho  nos meus olhos.


[Análise da trajetória profissional]

Em 2005 eu me formei, foi assim um dos momentos mais marcantes da minha vida. Quando teve aquela festa de formatura, foi uma grande vitória confraternizar com todos os meus amigos e, principalmente, com os meus pais, que desde o começo me apoiaram.

E aí se eu pudesse voltar no tempo, eu gostaria muito de voltar e falar assim: “filha, você pensa que você suou muito até agora, se prepara que você vai suar muito mais! Pensa que acabaram seus problemas, depois de formada? Não, eles estavam começando. É batalhar, é correr atrás, é formação, é estudo, dedicação.” 

 

[Perspectiva da profissão]
Então, o que eu vejo para daqui 10 anos? Uma demanda muito maior. É claro que, a cada fechamento de uma história, do nosso povo, abre-se, constrói-se uma demanda com outro tema. Mas, atualmente, eu vejo que a população está em crise de ansiedade, eu vejo que cada vez mais a população está frágil. Ela se preocupa muito no ter e não no ser. Então, avaliando, o que era à 10 anos atrás, quem desistia um pouquinho dessas questões do “eu sou”, “eu busco o melhor”, “eu consigo fazer as coisas com prazer” e 10 anos se passaram, vejo que as pessoas não estão conseguindo dividir esse prazer e ter, há um choque emocional.

Então, o que será que vai ser da Psicologia daqui 10 anos? Eu acredito que a procura pelo Psicólogo vai aumentar e muito! 


[Remuneração]

Bom, hoje, o profissional de psicologia não precisa ter uma agenda cheia, para fazer um ganho mensal de R$ 2mil… R$3 mil.


[Indicação de leitura – Confira em: www.goodreads.com/grupoitos ]
Bom, eu tenho 2 livros aqui que eu gostaria de indicar para quem quer conhecer um pouquinho sobre a Psicologia Analítica. É “A Busca do Símbolo”, que ele fala sobre os conceitos básicos da Psicologia Analítica, e “Jung, o Mapa da Alma”. Então são dois livros, quem não conhece sobre a Psicologia Analítica, eles dão uma resumida sobre toda a teoria Junguiana.

E, tem um livro que eu gosto muito, do Chevalier, que é o “Dicionário de Símbolos”. É um livro que tenta trazer todos os símbolos analisados, analiticamente falando, onde eu consigo trabalhar um pouquinho sobre os sonhos de cada paciente. Então, a gente vai pegando cada símbolo, tentar analisar o que ele significaria, o significado que ele teria, dentro, para mim, dentro do contexto dele, e a gente vai estar discutindo. Então, eu sempre tenho ali no cantinho, o “Dicionário de Símbolos” para estar tentando entender um pouquinho sobre esse sonho, de cada paciente.


[Mensagem Final]
Minha dica para quem está fazendo Psicologia, para quem está próximo da formação acadêmica, eu digo para que ele não se acomode. Pesquisem, busquem, sejam críticos. Tem uma frase do Jung que eu amo que é assim: “Domine todas as técnicas, domine todas as teorias, mas quando você encontrar uma alma humana, seja outra alma humana.”.

Então, Seja crítico, não aceite só aquilo que o teu paciente está trazendo. Vai buscar conversar com outros profissionais, não se acomode, não fique na mesmice, questione-se você, como profissional, não o teu paciente, mas o que você pode fazer de melhor por ele. 

Comente aqui: